Hebetismo Hodierno ou Sofisma Moderno?
Hoje de manhã, num debate televisivo sobre o caso Suzane von Richthofen, o advogado de defesa da guria perversa, sustentando a tese de que Suzane teria sido induzida pelo namorado a matar os próprios pais, desferiu uma pergunta (que chamou de “argumentação bombástica”) ao promotor público: “se Suzane não tivesse conhecido esse rapaz, ela teria matado seus próprios pais?”.
Os entrevistadores se entreolharam com desconforto; o promotor ficou mudo por alguns instantes, talvez aparvalhado diante do forte teor argumentativo da pergunta, e num misto de desespero e raiva, sem saber o que dizer, desconversou e tentou ironizar a situação.
Que a pergunta tenha embasbacado os entrevistadores não é nada fora dos padrões da mídia brasileira. O que me surpreendeu foi o embasbacamento do promotor (do qual se espera um melhor níver curturar).
Ora trambolhos!!! Se a pergunta fosse respondida com um “não”, e se isso implicasse inculpabilidade da guria (como quer o advogado de defesa), então a mesma pergunta feita de maneira inversa (se o rapaz não tivesse conhecido a Suzane, ele teria matado os pais dela ou qualquer outra pessoa?) também teria de ser respondida com um “não” e implicaria inculpabilidade do rapaz.
Após o programa, refleti sobre o embasbacamento do promotor (causado por tão tosca argumentação) e não consegui me convencer de que advogados (apresentados pela mídia como ilustres, experientes, autores de livros sobre direito penal, e com uma clientela endinheirada) pudessem meter os pés pelas mãos diante de uma falácia tão mixuruca e pueril. Ou eu havia me tornado um perfeito urumbeba com o passar dos anos ou o bom senso do poder judiciário brasileiro havia destrambelhado de vez!!!
Mas, minha persistente esperança na razão humana me levou a crer que eu estava diante de um hermético jogo estratégico entre causídicos de peso: enquanto o advogado de defesa fingia ser um palonço fingindo perspicácia (escondendo seus verdadeiros argumentos de defesa), o promotor fingia ser um patureba fingindo tontice (escondendo seus verdadeiros argumentos de acusação). Este foi o melhor cenário que consegui conceber. Far-fetched? Quem sabe?
PARA PENSAR ANTES DE DORMIR:
A bíblia dos sofistas modernos encerra duas regras básicas: enternecer a opinião pública implica em não se mostrar por demais esperto e inteligente; e servir-se de argumentos simples, contundentes e de efeito dramático (embora completamente falsos) é a chave lógica para o obscuro labirinto do raciocínio popular.
4 comentários:
te coloquei no favoritos duas vezes!
quando a patacoada é muito violenta o pensamento que vem é: ninguém pode ser tão estúpido, isso deve ser uma armadilha... eu que sou estúpido que não consigo ver sentido nessa idiotice. Passado o efeito inicial, com a "vitória" aparente do autor da asneira a mudez que sobra traduz uma vontade de comer de paulada o idiota do ouro lado...
"ou o bom senso do poder judiciário brasileiro havia destrambelhado de vez" Hã?! O Ministério Público agora faz parte do judiciário, é? Interessante, no meu país (Brasil) MP não faz parte de nehum dos três poderes...
Outro detalhe: membro do Ministério Público é declarado suspeito caso se pronuncie sobre o processo, pô!!!! Se o promotor, em vez de pastar, emitisse opinião publicamente, demonstraria sua completa falta de conhecimento pelo próprio regimento... kkk
filosofia de boteco
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