A Infinita Ilha de Creta
"The truth has never been of any real value to any human being – it is a symbol for mathematicians and philosophers to pursue. In human relations kindness and lies are worth a thousand truths"
(Graham Greene em "Heart of the Matter")
Naquela tarde, o grego revelou a Minos que a extensão da costa da ilha de Creta era infinita. Havia cumprido, no breve decurso de dois dias, a árdua tarefa de mensurar todo o reino. Para espanto da corte, havia chegado à inefável cifra sem a ajuda de medições, cálculos ou exaustivas viagens pela ilha. E foi naquela tarde, na sala hipostila do palácio de Cnosso, perante Minos e seu séquito de aduladores, que expôs o seu método:
"Mesmo que o grande mar congelasse e, destarte, as margens de Creta (com seus ínfimos contornos) fossem reveladas, medi-las implicaria em labor infindável e vão. Cada diminuta saliência e cavidade, se estudada por olhos apurados, desdobraria-se em outras ainda menores, e o decréscimo desses elementos não teria fim. Assim, concluo, meu Soberano, Deus e Senhor Amabilíssimo, que a extensão de vossa ilha é imensurável e o domínio de vosso reino infindo."
Minos ouviu o grego com altiva indiferença e mandou matá-lo – não pelo rigor exagerado de suas deduções nem pelo desplante de opor-se ao desejo de um soberano. Condenou-o por ter-lhe oferecido o infinito. O grego deveria saber: para um homem dono de homens; dono de terras, montanhas, lagos, bichos, prados e árvores, apenas o que há entre o infinito e o nada é o que interessa.